Existem diversos motivos que levam um bacharel a buscar o
ingresso em um curso de mestrado. Entre eles pode-se elencar com bastante
segurança que estão a busca por maior qualificação profissional, a atualização
dos conhecimentos adquiridos durante o bacharelado, o desenvolvimento das
habilidades docentes, e certamente, o aumento da remuneração.
Quatro pesquisas desenvolvidas no Brasil apontam que a
remuneração média depois do mestrado e doutorado é maior do que a remuneração média antes
do mestrado e doutorado e que essas diferenças são estatisticamente significantes (Cunha,
2007; Moraes, 2010; Martins, 2009 e Barth et al., 2013).
Cunha (2007) deve ter realizado a primeira grande pesquisa
no Brasil que discute o impacto de um curso de doutorado em Contabilidade na
vida de seus egressos. Em sua tese, a autora identificou que a 51,5% dos
ingressantes, a principal atividade remunerada era o mercado, enquanto que para
68,9% dos egressos a principal atividade remunerada era a academia.
A autora identificou três coisas interessantes acerca dos
doutores em Controladoria e Contabilidade pela USP.
A primeira é que para os doutores cuja principal fonte de
renda é o mercado, a média de remuneração à época da pesquisa (média R$
16.000,00 com desvio-padrão R$ 3.729) é estatisticamente maior que a média de
remuneração no início do curso (média R$ 9.238,46 com desvio-padrão de R$
4.759,95).
A segunda é que para os doutores cuja principal fonte de
renda é a academia, a média de remuneração à época da pesquisa (média R$
9.750,00 com desvio-padrão R$ 4.576,59) é estatisticamente maior que a média de
remuneração no início do curso (média R$ 6.206,35 com desvio-padrão de R$ 3.571,43).
A terceira é que média de remuneração dos doutores cuja
principal fonte de renda é o mercado (média R$ 16.000,00 com desvio-padrão R$
3.729) é maior do que a média de remuneração dos doutores cuja principal fonte
de renda é a academia (média R$ 9.750,00 com desvio-padrão de 4.576,59).
Em síntese, a remuneração depois do doutorado é maior,
independente da principal origem ser academia ou mercado, do que antes do
doutorado e entre os egressos a remuneração é maior para quem atua no mercado.
Moraes (2010) realizou estudo bastante similar ao de Cunha
(2007), mas cujo escopo eram os egressos do mestrado em Controladoria e
Contabilidade da USP.
O autor fez constatações igualmente interessantes: i.
identificou que a remuneração média em 2010 dos mestres que tem o mercado como sua
principal fonte de renda é estatisticamente superior do que quando ingressaram
no curso; ii. identificou que a remuneração média em 2010 dos mestres que tem a
academia como sua principal fonte de renda é estatisticamente superior do que
quando ingressaram no curso e iii. identificou que a remuneração média de quem
tem o mercado como principal fonte de renda é superior da remuneração média de
quem tem a academia como principal fonte de renda.
Embora o autor não divulgue as médias de remuneração,
fornece as remunerações por faixas segundo a tabela abaixo:
Martins (2009) também investigou o efeito do mestrado na
remuneração de egressos mas o fez no programa multiinstitucional da
UnB/UFPB/UFRN. O autor ainda dividiu sua análise entre núcleo Brasília e núcleo
Nordeste. As médias salariais identificadas pelo autor são mostradas na Tabela
abaixo, extraída da dissertação.
O autor identificou que a diferença entre das médias de
remuneração do mercado e da academia são estatisticamente significativas. Por
fim, Barth et al. (2013) fizeram estudo em que identificaram situação similar
junto a egressos do mestrado em Contabilidade da UFSC. A média da remuneração
antes do ingresso no mestrado era de R$ 2.636 e depois de terminar o mestrado
foi de R$ 3.846.
Esses trabalhos indicam fortemente que a remuneração tende a
ser maior depois que os mestrados e doutorados são concluídos. No entanto nenhum deles isola
o fator ‘formação’. Existe uma série de variáveis que que interferem no aumento
dessas remunerações. No trabalho de Barth et al. (2013), por exemplo, os
autores indicam que metade dos mestres que obtiveram aumento de renda com
mudança de classe social também cursaram o doutorado além do mestrado.
Um outro fator importante é que muitos dos aumentos de renda
obtidos pelos egressos são devidos a mecanismos formais do plano de carreira de
órgãos públicos que dão garantias de aumento aos mestres e doutores antes mesmo
do ingresso no programa de mestrado e doutorado: são as chamadas retribuições
por titulação. O Plano de Carreira da Docência no Nível Superior Federal, por exemplo,
é estruturado de forma que determinadas classes são restritas a portadores de
determinados títulos: Adjunto precisa possuir doutorado, Assistente precisa
possuir mestrado, Auxiliar, se for graduado ou especialista e divididas em
regimes de 20h, 40h e Dedicação Exclusiva.
O professor que ingressa como Assistente no regime de
Dedicação Exclusiva possui retribuição por título de mestrado de R$ 2.020,25.
Já o professor que ingressa como Adjunto no regime de Dedicação Exclusiva
possui retribuição por título de doutorado de R$ 5.051,87. (As tabelas completas
de retribuição podem ser encontradas aqui: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/Lei/L12863.htm) . Ou seja, há uma diferença substancial de remuneração quando ocorre a obtenção
de um novo título. Essa alteração não se dá da mesma forma quando se trata de
aumento da remuneração por reconhecimento de qualificação da mão-de-obra do
egresso pelo mercado de trabalho não acadêmico e esse fator também deveria ser
isolado por pesquisas futuras.
Por fim, esses quatro trabalhos tratam de egressos dos
cursos de mestrado e doutorado em Controladoria e Contabilidade da USP, no
mestrado em Ciências Contábeis da UnB/UFPB/UFRN e do mestrado em Contabilidade
da UFSC. Seria interessante se trabalhos similares fossem desenvolvidos por
pesquisadores nos outros 20 mestrados acadêmicos e profissionais e nos outros 3
doutorados que já possuem egressos.
Referências
CUNHA, Jacqueline
Veneroso Alves da. Doutores em ciências
contábeis da FEA/USP: análise sob a óptica da teoria do capital humano. 2007.
269 f. Tese (Doutorado) - Curso de Doutorado em Controladoria e Contabilidade,
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde-17102007-173046/>.
Acesso em: 16 nov. 2014.
MARTINS, Orleans Silva. Mestres em Ciências Contábeis pelo Programa
Multiinstitucional da UNB/UFPB/UFPE/UFRN: Uma análise a partir de suas
percepções e avaliações. 2009. 126 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós-graduação em Ciências
Contábeis, Universidade de Brasília – Unb, João Pessoa, 2009. Disponível em:
<http://www.cca.unb.br/images/dissert_mest/mest_dissert_166.pdf>. Acesso
em: 16 nov. 2014.
MORAES, Romildo de
Oliveira. Mestres em Ciências Contábeis
sob a Óptica da Teoria do Capital Humano. 2010. 157 f. Tese (Doutorado) -
Curso de Doutorado em Controladoria e Contabilidade, Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde-10052010-150158/>.
Acesso em: 16 nov. 2014.
BARTH, Tiago Guimarães et
al. A relação custo-benefício socioeconômica da pós-graduação: uma análise na
percepção dos mestres em contabilidade da Universidade Federal de Santa
Catarina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 20., 2013, Uberlândia. Anais... . Uberlândia: Abcustos, 2013.
p. 1 - 16. Disponível em:
<http://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/viewFile/119/119>. Acesso
em: 16 nov. 2014.
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