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16 de nov. de 2014

Os retornos financeiros da obtenção do título de mestre e doutor em Contabilidade

Existem diversos motivos que levam um bacharel a buscar o ingresso em um curso de mestrado. Entre eles pode-se elencar com bastante segurança que estão a busca por maior qualificação profissional, a atualização dos conhecimentos adquiridos durante o bacharelado, o desenvolvimento das habilidades docentes, e certamente, o aumento da remuneração.

Quatro pesquisas desenvolvidas no Brasil apontam que a remuneração média depois do mestrado e doutorado é maior do que a remuneração média antes do mestrado e doutorado e que essas diferenças são estatisticamente significantes (Cunha, 2007; Moraes, 2010; Martins, 2009 e Barth et al., 2013).

Cunha (2007) deve ter realizado a primeira grande pesquisa no Brasil que discute o impacto de um curso de doutorado em Contabilidade na vida de seus egressos. Em sua tese, a autora identificou que a 51,5% dos ingressantes, a principal atividade remunerada era o mercado, enquanto que para 68,9% dos egressos a principal atividade remunerada era a academia.

A autora identificou três coisas interessantes acerca dos doutores em Controladoria e Contabilidade pela USP.

A primeira é que para os doutores cuja principal fonte de renda é o mercado, a média de remuneração à época da pesquisa (média R$ 16.000,00 com desvio-padrão R$ 3.729) é estatisticamente maior que a média de remuneração no início do curso (média R$ 9.238,46 com desvio-padrão de R$ 4.759,95).

A segunda é que para os doutores cuja principal fonte de renda é a academia, a média de remuneração à época da pesquisa (média R$ 9.750,00 com desvio-padrão R$ 4.576,59) é estatisticamente maior que a média de remuneração no início do curso (média R$ 6.206,35 com desvio-padrão de R$ 3.571,43).

A terceira é que média de remuneração dos doutores cuja principal fonte de renda é o mercado (média R$ 16.000,00 com desvio-padrão R$ 3.729) é maior do que a média de remuneração dos doutores cuja principal fonte de renda é a academia (média R$ 9.750,00 com desvio-padrão de 4.576,59).

Em síntese, a remuneração depois do doutorado é maior, independente da principal origem ser academia ou mercado, do que antes do doutorado e entre os egressos a remuneração é maior para quem atua no mercado.

Moraes (2010) realizou estudo bastante similar ao de Cunha (2007), mas cujo escopo eram os egressos do mestrado em Controladoria e Contabilidade da USP.

O autor fez constatações igualmente interessantes: i. identificou que a remuneração média em 2010 dos mestres que tem o mercado como sua principal fonte de renda é estatisticamente superior do que quando ingressaram no curso; ii. identificou que a remuneração média em 2010 dos mestres que tem a academia como sua principal fonte de renda é estatisticamente superior do que quando ingressaram no curso e iii. identificou que a remuneração média de quem tem o mercado como principal fonte de renda é superior da remuneração média de quem tem a academia como principal fonte de renda.

Embora o autor não divulgue as médias de remuneração, fornece as remunerações por faixas segundo a tabela abaixo:


Martins (2009) também investigou o efeito do mestrado na remuneração de egressos mas o fez no programa multiinstitucional da UnB/UFPB/UFRN. O autor ainda dividiu sua análise entre núcleo Brasília e núcleo Nordeste. As médias salariais identificadas pelo autor são mostradas na Tabela abaixo, extraída da dissertação.


O autor identificou que a diferença entre das médias de remuneração do mercado e da academia são estatisticamente significativas. Por fim, Barth et al. (2013) fizeram estudo em que identificaram situação similar junto a egressos do mestrado em Contabilidade da UFSC. A média da remuneração antes do ingresso no mestrado era de R$ 2.636 e depois de terminar o mestrado foi de R$ 3.846.

Esses trabalhos indicam fortemente que a remuneração tende a ser maior depois que os mestrados e doutorados são concluídos. No entanto nenhum deles isola o fator ‘formação’. Existe uma série de variáveis que que interferem no aumento dessas remunerações. No trabalho de Barth et al. (2013), por exemplo, os autores indicam que metade dos mestres que obtiveram aumento de renda com mudança de classe social também cursaram o doutorado além do mestrado.

Um outro fator importante é que muitos dos aumentos de renda obtidos pelos egressos são devidos a mecanismos formais do plano de carreira de órgãos públicos que dão garantias de aumento aos mestres e doutores antes mesmo do ingresso no programa de mestrado e doutorado: são as chamadas retribuições por titulação. O Plano de Carreira da Docência no Nível Superior Federal, por exemplo, é estruturado de forma que determinadas classes são restritas a portadores de determinados títulos: Adjunto precisa possuir doutorado, Assistente precisa possuir mestrado, Auxiliar, se for graduado ou especialista e divididas em regimes de 20h, 40h e Dedicação Exclusiva.

O professor que ingressa como Assistente no regime de Dedicação Exclusiva possui retribuição por título de mestrado de R$ 2.020,25. Já o professor que ingressa como Adjunto no regime de Dedicação Exclusiva possui retribuição por título de doutorado de R$ 5.051,87. (As tabelas completas de retribuição podem ser encontradas aqui: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/Lei/L12863.htm) . Ou seja, há uma diferença substancial de remuneração quando ocorre a obtenção de um novo título. Essa alteração não se dá da mesma forma quando se trata de aumento da remuneração por reconhecimento de qualificação da mão-de-obra do egresso pelo mercado de trabalho não acadêmico e esse fator também deveria ser isolado por pesquisas futuras.

Por fim, esses quatro trabalhos tratam de egressos dos cursos de mestrado e doutorado em Controladoria e Contabilidade da USP, no mestrado em Ciências Contábeis da UnB/UFPB/UFRN e do mestrado em Contabilidade da UFSC. Seria interessante se trabalhos similares fossem desenvolvidos por pesquisadores nos outros 20 mestrados acadêmicos e profissionais e nos outros 3 doutorados que já possuem egressos.

Referências

CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves da. Doutores em ciências contábeis da FEA/USP: análise sob a óptica da teoria do capital humano. 2007. 269 f. Tese (Doutorado) - Curso de Doutorado em Controladoria e Contabilidade, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde-17102007-173046/>. Acesso em: 16 nov. 2014.

MARTINS, Orleans Silva. Mestres em Ciências Contábeis pelo Programa Multiinstitucional da UNB/UFPB/UFPE/UFRN: Uma análise a partir de suas percepções e avaliações. 2009. 126 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós-graduação em Ciências Contábeis, Universidade de Brasília – Unb, João Pessoa, 2009. Disponível em: <http://www.cca.unb.br/images/dissert_mest/mest_dissert_166.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2014.

MORAES, Romildo de Oliveira. Mestres em Ciências Contábeis sob a Óptica da Teoria do Capital Humano. 2010. 157 f. Tese (Doutorado) - Curso de Doutorado em Controladoria e Contabilidade, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde-10052010-150158/>. Acesso em: 16 nov. 2014.

BARTH, Tiago Guimarães et al. A relação custo-benefício socioeconômica da pós-graduação: uma análise na percepção dos mestres em contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 20., 2013, Uberlândia. Anais... . Uberlândia: Abcustos, 2013. p. 1 - 16. Disponível em: <http://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/viewFile/119/119>. Acesso em: 16 nov. 2014.

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