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11 de out. de 2014

O que aprendi submetendo artigos para revistas

Decidi colocar este post para sintetizar o trabalho de publicação de artigos que desenvolvi de 2010 a 2014. Em 2010 criei um sistema de acompanhamento bastante simples de submissão de artigos no qual controlava a revista e a data em que o artigo foi submetido e posteriormente a aprovação ou recusa pela revista.

Nesse sistema inclui 32 artigos e dois deles ainda se encontram em avaliação. Com os demais 30 artigos aconteceu o seguinte: 20 foram aceitos para publicação na primeira revista enviada, 4 foram aceitos na segunda revista, 4 na terceira revista e 2 na quarta revista.

Penso que de todos eles apenas uns três foram aceitos sem que o editor pedisse qualquer alteração o que indica que receber recomendações de alteração são muito comuns. É interessante verificar a dinâmica das recusas em função do estrato Qualis das revistas:
1. Recusado em: B3.                          Aprovado em B3.
2. Recusado em: B1.                          Aprovado em B5.
3. Recusado em: B1.                          Aprovado em B4.
4. Recusado em: B3.                          Aprovado em B5.
5. Recusado em: B2 e B1 .                Aprovado em B4.
6. Recusado em: B1 e B1 .                Aprovado em B1.
7. Recusado em: B3 e B1 .                Aprovado em B5.
8. Recusado em: C e C .                   Aprovado em C.
9. Recusado em: B2, B1 e B3.          Aprovado em B4.
10. Recusado em: B1, B1 e B1.        Aprovado em B2.

Acho que o caso 1 e 6 são os mais interessantes: ambos foram reprovados e depois foram aprovados por revistas do mesmo estrato Qualis. O que isso indica? Que a pesquisa é ruim? Que não tem contribuição? Que não merece ser publicada? Que a revista seguinte estava equivocada em aprovar o artigo? Talvez. Talvez essas questões filosóficas sejam a resposta.

Ou talvez essa questão seja respondida com respostas mais operacionais. Talvez o editor estivesse com um estoque de artigos muito grande para publicar e tenha recusado com um "este artigo não pertence ao escopo desta revista¹". Talvez o editor não goste do tema, dos autores ou da instituição dos autores e escolha avaliadores extremamente rigorosos ou incoerentes que certamente reprovarão o artigo. Ou talvez o artigo tenha um tema tão fora do mainstream que força o editor a enviar para avaliadores que não tem competência para avaliar o tema do artigo e reprovam com um "o artigo não traz qualquer contribuição para a área¹" ou "este artigo não é científico¹". São fatos como esses que podem originar os pareces tão contraditórios como apontados por Martins (2007).  

Diante do exposto, me vejo inclinado a ter a mesma dúvida apresentada por um pesquisador entrevistado por Paulo Pegino em sua tese:

“Ou você toma a pílula azul ou a vermelha. Se você tomar a pílula azul, você vai continuar vivendo o Matrix. O que é viver no Matrix? 'Olha, eu tenho que me adequar ideologicamente a esse journal para poder publicar, ter meu emprego e viver minha vida feliz.' Se você tomar a pílula vermelha, você vai dizer: 'Vai pra puta que pariu todo mundo, eu vou publicar nesse journal aqui que o impact factor é 0, mas é o journal que aceita minhas idéias malucas, que é contra todo o sistema.' Ótimo, então você vai viver de incenso. Você tem as escolhas da vida. Você dizer para um jovem tomar a pílula vermelha é muito difícil. Na ciência sempre foi assim, ou seja, há uma reprodução desse negócio. Pra você entrar no sistema, você se submete a isso. E aí, o que acontece? Quando você for mais velho, aí você se revolta contra o sistema, porque você já tirou o brevê do avião, entendeu? Aí você já é alguém com autoridade pra dizer: 'Olha, isso aqui tudo é uma merda.' Mas, até lá você é um Zé Ninguém, você não vai poder fazer nada, você vai espernear sozinho, entendeu? (PESQUISADOR 3).” (Pegino, 2014, p. 282).

Martins, G. A. (2007). Avaliação das avaliações de textos científicos sobre contabilidade e controladoria. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade (REPeC), 1(1), 1-13.

Pegino, P. M. F. (2014). As relações acadêmicas de produção na pós-graduação em administração no Brasil. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11851/TESE%20Paulo%20Ferraresi%20Pegino.pdf?sequence=5. Acesso em 10 out. 2014.

¹Trechos extraídos de pareces de artigos recusados e posteriormente aceitos para publicação.