Decidi colocar este post para
sintetizar o trabalho de publicação de artigos que desenvolvi de 2010 a 2014.
Em 2010 criei um sistema de acompanhamento bastante simples de submissão de
artigos no qual controlava a revista e a data em que o artigo foi submetido e
posteriormente a aprovação ou recusa pela revista.
Nesse sistema inclui 32 artigos e
dois deles ainda se encontram em avaliação. Com os demais 30 artigos aconteceu
o seguinte: 20 foram aceitos para publicação na primeira revista enviada, 4
foram aceitos na segunda revista, 4 na terceira revista e 2 na quarta revista.
Penso que de todos eles apenas
uns três foram aceitos sem que o editor pedisse qualquer alteração o que indica
que receber recomendações de alteração são muito comuns. É interessante
verificar a dinâmica das recusas em função do estrato Qualis das revistas:
1. Recusado em: B3. Aprovado
em B3.
2. Recusado em: B1. Aprovado
em B5.
3. Recusado em: B1. Aprovado
em B4.
4. Recusado em: B3. Aprovado
em B5.
5. Recusado em: B2 e B1 . Aprovado
em B4.
6. Recusado em: B1 e B1 . Aprovado
em B1.
7. Recusado em: B3 e B1 . Aprovado
em B5.
8. Recusado em: C e C . Aprovado
em C.
9. Recusado em: B2, B1 e B3. Aprovado em B4.
10. Recusado em: B1, B1 e B1. Aprovado em B2.
Acho que o caso 1 e 6 são os mais
interessantes: ambos foram reprovados e depois foram aprovados por revistas do
mesmo estrato Qualis. O que isso indica? Que a pesquisa é ruim? Que não tem
contribuição? Que não merece ser publicada? Que a revista seguinte estava
equivocada em aprovar o artigo? Talvez. Talvez essas questões filosóficas sejam
a resposta.
Ou talvez essa questão seja
respondida com respostas mais operacionais. Talvez o editor estivesse com um
estoque de artigos muito grande para publicar e tenha recusado com um
"este artigo não pertence ao escopo desta revista¹". Talvez o editor
não goste do tema, dos autores ou da instituição dos autores e escolha
avaliadores extremamente rigorosos ou incoerentes que certamente reprovarão o artigo. Ou talvez o artigo tenha um tema tão fora do
mainstream que força o editor a enviar para avaliadores que não tem competência
para avaliar o tema do artigo e reprovam com um "o artigo não traz qualquer contribuição para a área¹" ou "este artigo não é científico¹". São fatos como esses que podem originar os
pareces tão contraditórios como apontados por Martins (2007).
Diante do exposto, me vejo
inclinado a ter a mesma dúvida apresentada por um pesquisador entrevistado por Paulo
Pegino em sua tese:
“Ou você toma a pílula azul ou a
vermelha. Se você tomar a pílula azul, você vai continuar vivendo o Matrix. O
que é viver no Matrix? 'Olha, eu tenho que me adequar ideologicamente a esse
journal para poder publicar, ter meu emprego e viver minha vida feliz.' Se você
tomar a pílula vermelha, você vai dizer: 'Vai pra puta que pariu todo mundo, eu
vou publicar nesse journal aqui que o impact factor é 0, mas é o journal que
aceita minhas idéias malucas, que é contra todo o sistema.' Ótimo, então você
vai viver de incenso. Você tem as escolhas da vida. Você dizer para um jovem
tomar a pílula vermelha é muito difícil. Na ciência sempre foi assim, ou seja,
há uma reprodução desse negócio. Pra você entrar no sistema, você se submete a
isso. E aí, o que acontece? Quando você for mais velho, aí você se revolta
contra o sistema, porque você já tirou o brevê do avião, entendeu? Aí você já é
alguém com autoridade pra dizer: 'Olha, isso aqui tudo é uma merda.' Mas, até
lá você é um Zé Ninguém, você não vai poder fazer nada, você vai espernear sozinho,
entendeu? (PESQUISADOR 3).” (Pegino, 2014, p. 282).
Martins, G. A. (2007). Avaliação
das avaliações de textos científicos sobre contabilidade e controladoria. Revista de Educação e Pesquisa em
Contabilidade (REPeC), 1(1), 1-13.
Pegino, P. M. F. (2014). As
relações acadêmicas de produção na pós-graduação em administração no Brasil.
Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11851/TESE%20Paulo%20Ferraresi%20Pegino.pdf?sequence=5.
Acesso em 10 out. 2014.
¹Trechos extraídos de pareces de artigos recusados e posteriormente aceitos para publicação.